Desafio Lixo Zero
Poder Público
06/04/2017Sobre o Projeto
Descrição
O Desafio Lixo Zero é uma metodologia de envolvimento da comunidade escolar na implementação da Gestão de Resíduos Sólidos em Escolas de Educação Básica. A metodologia foi desenvolvida pelo NEAmb-UFSC a partir da experiência do projeto Escola Lixo Zero, atingindo uma redução de 50% dos resíduos enviados ao aterro no Colégio de Aplicação da UFSC em 2015, e de 33% em uma escola municipal em 2016, com grande envolvimento e empoderamento das respectivas comunidades escolares. A abordagem se organiza em torno do desafio de a escola tentar ser Lixo Zero por uma semana, isto é, evitar a geração e reaproveitar ao máximo os resíduos gerados. A partir do lançamento do Desafio são realizadas as atividades de educação ambiental e mobilização, formando-se o Coletivo Lixo Zero, em que estudantes, profissionais, e familiares, têm algumas semanas para implementar as estratégias de GRS até a Semana Lixo Zero, quando compara-se a geração de resíduos com o diagnóstico anterior ao Desafio.
O que motivou a iniciativa
A motivação vem da dificuldade de mudança cultural relativa a questão dos resíduos sólidos. A difusão de informações sobre a problemática já é quase universal desde os anos 90, ainda assim a maioria da população não muda seus hábitos, a produção de resíduos por habitante no país continua a crescer, e com frequência vemos lixo no chão e nos ambientes de nossas cidades. O mesmo acontecia nas escolas em que trabalhávamos com o NEAmb. Mesmo com a temática sendo trabalhada pelos professores, predominava o descaso, o lixo no chão, os resíduos todos misturados. Precisávamos fazer algo para transformar esse cenário, e era preciso fazer algo de maneira diferente, pois a educação ambiental predominante parece não afetar as pessoas a ponto de mudar seus hábitos. Desenvolver uma abordagem que promova essa transformação se tornou o foco do projeto.
Principais resultados
A partir da experiência de 2014 no Colégio de Aplicação da UFSC (CA), somada à pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso de Luiz Gabriel Vasconcelos, em 2015 foi desenvolvida a metodologia do Desafio Lixo Zero. A metodologia já apresentada na descrição, promoveu grande envolvimento da escola, com a formação de um Coletivo Lixo Zero, com alunos, professores e servidores técnicos da escola que planejaram e implementaram estratégias de gestão de resíduos sólidos na escola, como a abolição de copos descartáveis e adoção de copos reutilizáveis, a separação dos resíduos recicláveis, do papel e dos orgânicos, estes sendo compostados em composteira na própria escola. O resultado foi uma redução em 50% dos resíduos em relação a antes do projeto. Motivados pelo sucesso do projeto, em 2016 o Desafio foi levado a duas escolas municipais de Florianópolis, conseguindo ser concluído em uma delas, também com resultados expressivos, como a redução em 33% dos resíduos enviados ao aterro, e um grande envolvimento dos estudantes. Tanto no CA quanto nessa escola, alunos e profissionais da escola se empoderaram a dar continuidade às ações do projeto, continuando até hoje atuantes. A terceira escola não demonstrou envolvimento, reforçando o mencionado desafio de transformação cultural e envolvimento, e levando a aprendizados para a abordagem do projeto, referente a aspectos que vão além da metodologia.
Desafios Enfretados
O grande desafio é o de romper com os padrões de hábitos e relações que sustentam essa cultura de descaso com os resíduos sólidos na escola. Isso é um desafio, pois esses padrões são sustentados por forças que vão muito além da escola, como a promoção do consumo pela publicidade, o modelo de desenvolvimento pautado apenas no dinheiro, que leva a uma racionalidade instrumental, ao individualismo e o imediatismo, entre outros aspectos da cultura dominante. Essas influências recebidas na família, na comunidade e nos meios de comunicação reverberam na escola, que também possui alguns padrões de relações estabelecidos que dificultam a construção de uma nova cultura. Padrões como a relação conflituosa entre alunos e professores, marcada pelo desinteresse e indisciplina dos alunos, e do cansaço e sobrecarga dos professores, somados ainda a falta de valorização dos professores e da educação pública. Assim, começar uma nova cultura, novos hábitos, novas formas de se relacionar é o desafio de mudar a direção de toda uma corrente cultural dominante, o que não pode ser feito apenas com informações e discursos ecológicos, mesmo porque estes já circulam há décadas e a cultura ainda não se transformou. É preciso ir além, e esse era o desafio do projeto, descobrir formas de promover essa transformação.
Lições aprendidas
O primeiro aprendizado diz respeito ao próprio desenvolvimento da metodologia do Desafio Lixo Zero, ferramenta de grande utilidade para promover uma mobilização da escola e o rompimento da inércia cultural, despertando o interesse em participar do movimento de transformação da escola em uma escola lixo zero, e assim da transformação pessoal de hábitos e identidades nesse processo. Porém, tão importante quanto a ferramenta, está o seu uso, e a experiência de estar de fato interagindo com as pessoas na escola no dia-a-dia do projeto, para além da metodologia desenhada no papel. Essa dimensão da abordagem do projeto se mostrou fundamental, revelando que a composição de um movimento de transformação cultural se dá através de um trabalho micropolítico, de construções de relações pessoais com as pessoas na escola, e do contágio pessoa a pessoa que acontece nesse processo, despertando o desejo de transformação, o senso de pertencimento a esse processo, e assim o envolvimento necessário para efetivar essa desafiadora mudança rumo ao lixo zero.